1.11.10

A primeira e a última impressão

Enquanto o grupo O Dia lança o diário esportivo 'Marca Campeão!', JB deixa de circular nas bancas

*POR GUILHERME ALVES









     O mercado de jornalismo esportivo carioca tem passado por grandes mudanças nos últimos meses. O grupo O Dia, que foi recentemente vendido à EJESA (Empresa Jornalística Econômico S.A), lançou o diário esportivo "Campeão", que meses mais tarde passou a ser comercializado com o nome de Marca Campeão!.  Tentando atrair o interesse do leitor e aumentar suas vendagens, os jornais e cadernos esportivos apresentam novidades e seguem uma tendência: a aposta no bom humor e irreverência. Em meio à intensa movimentação do mercado, uma notícia surpreende todos: o fim do Jornal do Brasil impresso.

     Circulando diariamente desde agosto com novo nome, o diário esportivo Marca Campeão! (que antes era chamado de "Campeão") é a aposta do grupo O Dia para concorrer com jornais como Lance! e Jornal dos Sports. A publicação, no formato Novo Berliner (maior que o tablóide e um pouco menor que o Berliner), tem duas edições: uma para o Rio de Janeiro (cidade de origem), onde é feita a cobertura diária dos quatro grandes clubes cariocas e outra para São Paulo, que segue fórmula parecida ao realizar a cobertura do dia a dia dos times da capital paulista. O jornal tem os direitos de exploração do nome "Marca" (diário espanhol) e por isso, realiza a cobertura das mais diversas modalidades esportivas nacionais e internacionais. A perspectiva é que, futuramente, o jornal atue em nível nacional.

     Líder em vendas no segmento esportivo e um dos jornais mais vendidos do país , o diário Lance! aposta na convergência e exploração de outras mídias, além do jornal impresso:
      -Esta é uma das prioridades do Grupo LANCE!, que já tem operações robustas de webradio, webtv e o LANCENET!, site líder de audiência no IVC (Instituto de Verificação de Circulação). - afirma Eduardo Tironi, editor executivo de mídias digitais do Lance!.

     Até mesmo o tradicional O Globo lançou, antes da Copa do Mundo da África do Sul, um caderno esportivo diário.  O editor de esportes do jornal, Antônio Nascimento, acredita que a "aposta" foi bem sucedida:
       -O caderno de esportes diário de O Globo sempre foi um pedido dos leitores e um projeto que sempre acalentei. Com a Copa no Brasil e as Olimpíadas no Rio, achamos que era o momento ideal para lançá-lo, o que foi uma acerto. Basta dizer que meta de faturamento do caderno prevista para o ano todo foi atingida em agosto. - conta o jornalista.

     Junto com o caderno esportivo, vieram reforços de nome para o time de colunistas.  O jornal apostou em humoristas da TV, pessoas sem vivência na área, mas apaixonadas pelo esporte:
       -Marcelo Adnet e Bruno Mazzeo são pessoas novas, que trouxeram um público mais novo mais o caderno. O fato dos dois trabalharem com humor foi uma coincidência. Já o Sérgio Pugliese está tendo dentro da ideia de abrir o leque de assuntos tratados no caderno, falar um pouco mais de comportamento e não ficar preso exclusivamente às competições, como acontecia antes. -  explica Nascimento.



     Do rádio, vem a mais recente novidade do "Jogo Extra", caderno esportivo do jornal Extra: a turma do Rock Bola, que além do programa na "Oi FM", passa a assinar uma coluna semanal. Toda segunda-feira, os humoristas fazem análises bem humoradas do futebol e piadas entre si, onde cada integrante se comporta como torcedor de um grande clube carioca.

     Enquanto as movimentações acontecem e novidades surgem, o fim do Jornal do Brasil impresso liga o sinal de alerta e reabre a discussão: será o fim dos jornais impressos ou somente as empresas mal administradas fecham as portas? Especialistas apontam a tendência mundial de migração dos jornais impressos para a internet. Nos Estados Unidos, o jornal USA Today está migrando para internet e notícias dão conta que o tradicional New York Times pode seguir o mesmo caminho e ser veiculado apenas pela "grande rede".

     O Jornal do Brasil, fundado em 1891, fez história no jornalismo brasileiro. Entre  passagens marcantes estão a prisão do jurista e escritor Ruy Barbosa (que foi redator-chefe do diário), em 1893, quando o presidente Floriano Peixoto o acusou de incentivar a Revolta da Armada. Na década de 1950, a reforma gráfica, promovida por Ferreira Gullar, Amilcar de Castro e Reynaldo Jardim, mostrou todo vanguardismo e pioneirismo do jornal.

(Capa da última edição do JB impresso)


    A cobertura esportiva do JB sempre foi referência e influenciou uma geração de jornalistas apaixonados pelo esporte. Na memória de Antônio Nascimento, de O Globo, uma lembrança tem destaque:
-A excelente cobertura da Copa de 1982 ficou como um bom exemplo a ser seguido.

     Aos profissionais, leitores e amantes do bom jornalismo, restam as lembranças do grande Jornal do Brasil. Lembranças boas, como os 180 mil exemplares vendidos diariamente durante a década de 80, do grande time de jornalistas e colunistas que fizeram do jornal referência nacional; e lembranças ruins, como as sucessivas más administrações e o (in)consequente processo de degradação, dívidas (na casa dos 800 milhões de reais) e falência do jornal.



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Matéria que escrevi para o jornal "O Cronista Esportivo", órgão oficial da Associação de Cronistas Esportivos do Rio de Janeiro (ACERJ). Edição de outubro/novembro. Ano 3 - Número 5.

Observação: Após o fechamento desta matéria, o jornal Marca Campeão mudou de nome novamente, passando a ser veiculado com o nome de Marca.BR.